Duodopa
Muitos nos têm questionado sobre o tratamento comercializado pela SOLVAY, designado por DuoDopa. Conhecemos bem a ansiedade que os DP têm em conhecer novos medicamentos, novos tratamentos e somos frequentemente questionados sobre estes temas.Como doença neurológica degenerativa que é,e que ainda não tem cura, não gostamos de dar noticias poucos rigorosas e sem bases científicas. Conhecemos a DuoDopa há bastante tempo, mas como só agora foi iniciada no nosso país e em face das noticías que têm vindo a ser divulgadas, inclusivé na televisão onde passou diversas vezes uma reportagem sobre a primeira aplicação em Portugal da DuoDopa num DP, a seguir apresentamos um texto que não podemos deixar de agradecer publicamente aos seus autores, que são também os responsáveis por este tratamento, a Dr.ª Maria José Rosas e o Dr. Miguel Gago, do Hospital de S. João no Porto.
Suporte Científico
A Doença de Parkinson Idiopática é uma doença neurodegenerativa progressiva de várias estruturas e circuitos neuronais. A nível bioquímico caracteriza-se fundamental por diminuição do neurotransmissor dopamina no circuito nigroestriatal devido à “morte” de céulas dopaminérgicas na Substância Nigra pars compacta.Desde a década de 1960, que a medicação que tem como princípio activo base a levodopa (transformada em dopamina), mantém-se até à actualidade como a principal e mais eficaz terapêutica na Doença de Parkinson. Vários estudos têm indicado que os sintomas e sinais centrais (bradicinésia, tremor, rigidez, instabilidade postural) da Doença de Parkinson só se comecem a manifestar quando o sistema nigroestriatal já perdeu entre 40-60% das suas células. Deste achado científico infere-se que as restantes células neuronais dopaminérgicas têm capacidade compensatória nas fases iniciais da doença.Esta capacidade compensatória crê-se que derive das células neuronais dopaminérgicas conseguirem armazenar a dopamina, fornecida pela medicação oral, e a “libertarem de forma natural” na fenda sináptica mantendo um normal funcionamento da rede de circuitos envolvidos no controlo de movimentos. Sendo assim, até estádios avançados da doença, a medicação é satisfatória no controlo sintomático.No entanto, a neurodegenerescência progride, com cada vez menos células dopaminérgicas, e por conseguinte menor capacidade de armazenamento neuronal de dopamina, e menos capacidade compensatória. Isto vai se reflectir numa maior dependência do funcionamento dessas células e da rede neuronal dos níveis de dopamina no sangue. Deste modo, concentrações não constantes de dopamina no sangue vão se reflectir num anormal funcionamento da rede neuronal. Nesta fase mais avançada da doença, o doente pode apresentar flutuações motoras. Em termos gerais, quando os níveis sanguíneos de dopamina estão elevados o doente responde com discinésias (movimentos involuntários exuberantes) e ao contrário quando estão baixos responde com off (tremor, bradicinésia).Com a medicação oral convencional, actualmente existente, é difícil manter os níveis constantes sanguíneos de dopamina de modo a evitar as flutuações motoras. A medicação oral convencional apresenta absorção intestinal imprevisível, e por sua vez níveis sanguíneos não constantes, muito à custa da interacção com alimentação (sobretudo proteínas) e do esvaziamento gástrico errático.Em alguns dos doentes com estas complicações, a solução terapêutica passa pela Estimulação Cerebral Profunda ou pela Infusão de Duodopa no Intestino-Jejuno.
O que é a Duodopa?
A Duodopa é uma levodopa sob a forma de um gel que está armazenada numa cassete. Esta cassete é conectada a uma bomba infusora (fig. 1), que por sua vez através de um tubo que entra no estômago (Fig.3) (gastrostomia) e termina no jejuno (Fig.2), liberta a levodopa de forma regulada e contínua contribuindo para uma absorção intestinal mais uniforme.
Esta forma de libertação de levodopa no jejuno permite ultrapassar os problemas da absorção intestinal errática da medicação oral convencional. Vários estudos têm demonstrado que com a Duodopa os doentes têm níveis plasmáticos de dopamina mais constantes e por conseguinte têm uma diminuição das flutuações motoras.Vários estudos estão em curso para comparar Duodopa com Estimulação Cerebral Profunda em termos de benefícios motor e complicações médicas.Em termos práticos, apesar da finalidade clínica ser a mesma, são dois procedimentos técnicos bastante diferentes, com diferentes complicações médico-cirúrgicas possíveis e diferentes implicações nas actividades de vida diária do doente.
O que o doente candidato a Duodopa precisa de saber.
- A Duodopa, à luz da ciência actual, tem o mesmo benefício que a Cirurgia de Parkinson.
- A Duodopa poderá ser uma alternativa aos doentes recusados, com contra-indicações, para Cirurgia.
- A Duodopa não apresenta as potenciais complicações médico-cirúrgicas cerebrais da Cirurgia de Parkinson.
- O doente executa pelo menos um procedimento de Endoscopia Alta para efectuar a gastrostomia por onde entra o tubo. Os riscos desta intervenção são sobreponíveis aos de uma endoscopia alta e de uma gastrostomia convencionais. A complicação mais perigosa é a de uma infecção abdominal (peritonite) . A endoscopia alta e gastrostomia pode ser efectuada apenas com sedação, sem necessidade de anestesia geral. A duração da endoscopia alta e gastrostomia é variável, geralmente < 1h
- A presença de uma gastrostomia (orifício no estômago por onde entra o tubo) (Fig.3) exige cuidados de higiene acrescidos, sob pena de infecção das gastrostomia.
- Existe a possibilidade da parte terminal do tubo, colocada no jejuno, sair do sítio, exigindo nova endoscopía alta para recolocação.
- As cassetes são necessariamente guardadas no frigorifico (até 8ºc), com validade de cerca de um mês. À temperatura ambiente, as cassetes têm a validade de um dia e não são reutilizáveis. Utiliza-se uma cassete por dia. Habitualmente, no final de cada mês, o doente vai buscar ao Hospital as ~30 cassetes para o mês seguinte.
- Todas as manhãs o doente tem de conectar uma nova cassete (Fig.4) à bomba perfusora, e retirá-la no final do dia.Os doentes com muita acinésia matinal poderão ter alguma dificuldade na conexão da cassete à bomba infusora (fig.4) precisando de ajuda de cuidador.
- Em termos de mobilidade, a bomba infusora com cassete pesa cerca de 0.5 Kg, existindo sacos apropriados para o seu transporte (Fig. 5)na cintura ou ao ombro. O tubo ligado á máquina perfusora é facilmente oculto debaixo de uma peça de roupa. Numa viagem de férias (Fig.6) de vários dias, o doente pode retirar as cassetes do frigorifico e colocá-las numa embalagem térmica arrefecida para a viagem tendo imperiosamente que as recolocar novamente no frigorifico no final do dia.
Dra. Maria José Rosas, Dr. Miguel Gago
Unidade de Doenças de Movimento e Cirurgia Funcional
Hospital São João, E.P.E.
www.gdmhsj.com
Nota: Este tratamento ainda não é comparticipado pelo SNS, nem as recargas diárias necessárias.
As que foram aplicadas estão a ser suportadas pelo fabricante que colocou à disposição de alguns Hospitais algumas unidades gratuitamente.