O Glifosato

O glifosato é o pesticida mais utilizado na Europa e representa um terço de todos os herbicidas utilizados.

Uma pessoa pode ser exposta ao glifosato se o pesticida entrar em contacto com a pele, com os olhos ou se for respirado durante a sua utilização. O glifosato persiste no ambiente durante dias ou meses e, diariamente, muitos de nós estão expostos ao glifosato. Está associado à perda de biodiversidade e à mortalidade das abelhas. Além disso, há cada vez mais provas de que a utilização de glifosato apresenta riscos para a saúde pública.

Perguntas Mais Frequentes sobre o glifosato e a doença de Parkinson

Outubro 2023

1. O que é a doença de Parkinson?

A doença de Parkinson é a doença neurológica que regista o crescimento mais rápido do mundo1,
com mais de 10 milhões de diagnósticos a nível global ̶ um número que se espera que duplique nos
próximos 50 anos. Não existe cura. A causa é desconhecida, mas as pessoas com um histórico familiar
da doença têm um risco mais elevado. A exposição à poluição atmosférica, aos pesticidas e aos
solventes também pode aumentar o risco.
A doença de Parkinson ocorre quando as células cerebrais que produzem dopamina, um químico que
coordena o movimento, deixam de funcionar ou morrem. É uma doença progressiva, cujos três
principais sintomas são: o tremor, a lentidão de movimentos e a rigidez (rigidez muscular). Outros
sintomas incluem: mobilidade reduzida, perturbações do sono, problemas de humor e cognição,
disfunção autonómica, alterações da saúde mental e uma diminuição acentuada da qualidade de vida.
Mais informações sobre a doença de Parkinson podem ser encontradas neste site.

2. Qual é a relação entre os pesticidas e a saúde humana?

Há cada vez mais provas da existência de uma relação entre a exposição a pesticidas e a doença de
Parkinson, a doença de Alzheimer, vários tipos de cancro, doenças pulmonares, problemas
reprodutivos e problemas de imunidade.
Os pesticidas são frequentemente utilizados em combinação e estas misturas (cocktails) de pesticidas
são susceptíveis de causar mais danos à biodiversidade e à saúde do que os agentes isolados.
Contudo, a investigação realizada é escassa, e estas misturas não são tidas em conta aquando da
autorização dos pesticidas. As regras actuais de autorização dos pesticidas não são suficientes para
estimar corretamente o risco de doenças cerebrais, como a doença de Parkinson.

3. O que é o glifosato?

O glifosato é o pesticida mais utilizado na Europa e representa um terço de todos os herbicidas
utilizados2. A utilização global de glifosato na agricultura foi de 746 580 t em 2014, representando 18%
e 92% de toda a utilização de pesticidas e herbicidas, a nível global, respetivamente.
O glifosato é utilizado numa panóplia de aplicações, como o controlo de ervas daninhas, o fim de
culturas de cobertura, o fim de pastagens temporárias, a dessecação de culturas e como auxiliar de
colheita.
Uma pessoa pode ser exposta ao glifosato se o pesticida entrar em contacto com a pele, com os olhos
ou se for respirado durante a sua utilização. O glifosato persiste no ambiente durante dias ou meses e,
diariamente, muitos de nós estão expostos ao glifosato. Está associado à perda de biodiversidade e à
mortalidade das abelhas. Além disso, há cada vez mais provas de que a utilização de glifosato
apresenta riscos para a saúde pública.

4. O que é que sabemos sobre a ligação entre o glifosato e a doença de Parkinson?

Existem cada vez mais provas de que o glifosato é uma possível causa da doença de
Parkinson345678. Embora estas provas não sejam conclusivas, existem provas suficientes para
nos preocuparmos com o facto de existir uma ligação biologicamente plausível entre a exposição
ao glifosato e os danos na região específica do cérebro envolvida na doença de Parkinson. Vários
estudos demonstraram que os agricultores têm um risco significativamente maior de contrair a
doença de Parkinson e o mesmo se aplica aos residentes que vivem perto de terrenos agrícolas.

5. O que está em causa na votação europeia e porque é que é importante?

Tem havido grandes discussões sobre a proibição do glifosato na Europa desde 2015, altura em
que a Agência Internacional de Investigação em Cancro da Organização Mundial de Saúde,
numa avaliação do glifosato, concluiu que o composto era “provavelmente cancerígeno para os
seres humanos”9. Em avaliações subsequentes, a Autoridade Europeia para a Segurança dos
Alimentos e a Agência Europeia dos Produtos Químicos concluíram que o glifosato não podia
ser classificado como cancerígeno. Com base nos debates em curso, a Comissão Europeia
renovou a aprovação do glifosato em 2017, apenas por um período adicional de 5 anos
(prorrogado por mais um ano em 2022).

No dia 13 de outubro de 2023, foi realizada uma votação europeia para renovar a aprovação da
licença do glifosato por 10 anos. Os representantes dos países da União Europeia (UE) tiveram
a oportunidade de aprovar ou bloquear o projeto de regulamento, numa votação à porta fechada,
no Comité Permanente dos Vegetais, Animais, Alimentos para Consumo Humano e Animal.
Dado que não houve maioria suficiente ̶ exigindo 15 dos 27 Estados-Membros e representando
pelo menos 65% da população total da EU ̶ nem a favor nem contra a proposta, o executivo
da UE apresentou a proposta ao comité de recurso, estando a próxima votação crucial agendada
para 16 de novembro de 2023.

Esta é, portanto, uma oportunidade real para os Estados-Membros solicitarem que a licença da
UE do glifosato NÃO seja renovada por 10 anos, como planeado pela Comissão Europeia.

6. De que falhas padece o actual procedimento de autorização?

Existe um amplo consenso entre a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos
Alimentos) e os peritos internacionais em Parkinson de que a actual política de
autorização proporciona uma compreensão totalmente inadequada do risco de doenças

neurodegenerativas, como a doença de Parkinson10,11,12,13,14,15. Esta preocupação baseia-
se nas seguintes lacunas:

  • A avaliação actual não aborda especificamente as doenças neurodegenerativas.
    Especificamente, a avaliação actual no que diz respeito à potencial neurotoxicidade (ou seja, danos no cérebro, na medula espinal ou nos nervos) é demasiado rudimentar quando se trata de avaliar o risco de doenças neurodegenerativas.
  • As experiências realizadas até à data não têm em conta os factores hereditários que podem aumentar a susceptibilidade após a exposição ao glifosato.
  • A dosagem de glifosato nas experiências com animais utilizadas até à data foi demasiado baixa e não representativa da vida quotidiana.
  • A política de aprovação avalia apenas os pesticidas individuais e não as misturas.
    A realidade é que os agricultores, jardineiros e residentes locais estão expostos aos chamados cocktails16, que contêm vários pesticidas. A investigação científica recente e autorizada demonstra claramente que a exposição a cocktails de diferentes pesticidas aumenta o risco da doença de Parkinson17.
  • As experiências avaliadas para a aprovação do glifosato foram conduzidas pela própria indústria. Os jornalistas científicos descobriram que a indústria omite resultados relevantes do dossier de avaliação.

7. O que é o princípio da precaução e qual a sua importância?

O princípio da precaução estabelece que “se um produto, acção ou política
apresentar um risco suspeito de causar danos ao público ou ao ambiente, medidas
de proteção devem ser apoiadas antes de existirem provas científicas completas
de um risco”.

Nas últimas décadas, tornou-se claro que a utilização de pesticidas químicos tem
efeitos negativos imprevistos, como a morte de insectos e o aumento do risco de
doença de Parkinson. É, por isso, que apelamos aos Estados-Membros para que
os proíbam em caso de dúvida ou incerteza sobre os possíveis efeitos nocivos dos
pesticidas para a saúde ou para o ecossistema.

8. Quais são as nossas recomendações?

  • Solicitamos que a licença da UE para o glifosato NÃO seja renovada e que os Estados-Membros votem NÃO na votação de 16 de novembro de 2023;
  • Solicitamos que a UE apoie a investigação independente sobre o glifosato e pesticidas semelhantes;
  • Solicitamos que sejam consideradas alternativas ao glifosato.

1 Dorsey ER, Sherer T, Okun MS, Bloem BR. The Emerging Evidence of the Parkinson Pandemic. J ParkinsonsDis. 2018;8(s1):S3-S8.doi: 10.3233/JPD-181474. PMID: 30584159; PMCID: PMC6311367.
2 Antier, C. et al. Glyphosate use in the European agricultural sector and a framework for its further monitoring. Sustainability12, 5682 (2020).
3 Barbosa, E.R., et al., Parkinsonism after glycine-derivate exposure. Mov Disord, 2001. 16(3): p. 565-8.
4 Wang, G., et al., Parkinsonism after chronic occupational exposure to glyphosate. Parkinsonism Relat Disord, 2011. 17(6): p. 486-7.
5 Zheng, Q., et al., Reversible Parkinsonism induced by acute exposure glyphosate. Parkinsonism Relat Disord, 2018. 50: p. 121
6 Eriguchi, M., et al., Parkinsonism Relating to Intoxication with Glyphosate. Intern Med, 2019. 58(13): p. 1935-1938.
7 Caballero, M., et al., Estimated Residential Exposure to Agricultural Chemicals and Premature Mortality by Parkinson’s Disease inWashington State. Int J Environ Res Public Health, 2018. 15(12).
8 Yang, A.M., et al., Association between urinary glyphosate levels and serum neurofilament light chain in a representative sample of US adults: NHANES 2013-2014. J Expo Sci Environ Epidemiol, 2023.
9 Kudsk, P. & Mathiassen, S. K. Pesticide regulation in the European Union and the glyphosate controversy. Weed Sci. 68, 214–222 (2020).

(Este FAQ foi escrito de acordo com a antiga ortografia)