Terapia da Fala
A doença de Parkinson (DP) decorre da degeneração de uma região específica no cérebro, originando alterações no desempenho muscular. É uma doença crónica e tem como principais sintomas a lentidão do movimento, o tremor, a rigidez muscular e o desequilíbrio.
A terapia da fala na doença de Parkinson surge como uma opção terapêutica na medida em que a fala e a deglutição (acto de engolir) são capacidades que dependem da acção conjunta de vários músculos. O Terapeuta da Fala é o profissional de saúde responsável pela prevenção, avaliação, tratamento e estudo científico da comunicação humana e das perturbações relacionadas. (Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala). Estas constituem alterações ao nível da musculatura da cavidade oral, face e pescoço, alterações ao nível da produção de voz e, finalmente, alterações no processo de deglutição, que constitui ao ato de engolir.
Em que consiste?
Quer na fala como na deglutição, o acompanhamento em terapia da fala começa com a avaliação, é neste momento que se ouvem as queixas do doente, que se estudam as alterações presentes na fala e deglutição e se procura compreender qual o seu impacto na vida do doente. Este processo termina com a definição de objectivos terapêuticos, que passam vulgarmente por conseguir falar com uma voz mais forte e perceptível ou deixar de tossir e engasgar-se durante a alimentação.
Durante as sessões de terapia da fala, os doentes adquirem, essencialmente, conhecimento de dois tipos: 1. como executar exercícios que melhoram o desempenho de estruturas envolvidas na produção de fala e na deglutição (lábios, língua, laringe, entre outras) 2. Quais as estratégias de compensação para diminuir o impacto de défices funcionais, como por exemplo, aprender a organizar o dia de acordo com as flutuações da voz, deixando as actividades mais exigentes para o período da tarde, no qual, geralmente, a voz está mais perceptível.
A frequência da terapia pode variar entre uma sessão de avaliação e aconselhamento terapêutico até programas de reabilitação intensivos, com sessões diárias durante algumas semanas. Geralmente, depois de um período de acompanhamento, o doente tem alta e mantém sessões periódicas. Importa salientar que a DP é crónica e progressiva, os sintomas variam ao longo do tempo e um acompanhamento atempado e especializado constitui a melhor forma de controlar a doença.
Para quem? E quando?
A terapia da fala é indicada para todas pessoas com doença de Parkinson ou outra doença do movimento.
Actualmente ainda não há uma resposta satisfatória para a pergunta “quando devo fazer terapia da fala?”. Sabe-se, por exemplo, que pessoas que praticam canto coral de forma frequente tendem a manter uma boa qualidade vocal e a sentirem necessidade de terapia da fala mais tardiamente e, também, que pessoas que vivem sozinha, tendem a ter uma maior degradação da qualidade vocal. Este conhecimento sugere que a utilização frequente da voz e a realização de exercício específico retardam o surgimento de alterações na voz.
A pessoa deve procurar um terapeuta no momento em que as suas capacidades falar ou engolir revelarem algum sinal de que não estão bem, frequentemente, estratégias simples e a aprendizagem de exercícios que podem ser realizados autonomamente em casa, são uma resposta satisfatória.
Estima-se que a maioria das pessoas com DP pode, em algum momento da progressão da doença, beneficiar do acompanhamento em terapia da fala, porém, os dados rigorosos, só obtidos através da investigação científica, estão ainda aquém de responder a todas as questões. Neste sentido, a participação e desenvolvimento de projecto de investigação é uma das preocupações do serviço de terapia da fala, assim como, de toda a equipa de reabilitação.
Porquê TF especializada?
A definição de áreas de intervenção específicas do TF é algo natural e até desejável. São várias as áreas do conhecimento, as idades e as patologias nas quais a terapia da fala oferece significativo benefício terapêutico. Dada a complexidade da DP, compreender os défices e o seu impacto, definir objetivos realista e reconhecer as limitações da reabilitação, constituem desafios importantes a qualquer profissional de saúde.
O investimento na formação contínua e especializada em doenças do movimento é uma das linhas orientadoras do serviço. O benefício deste investimento é claro: um acompanhamento especializado e sensível às especificidades que a DP implica, tendo sempre presente que o conhecimento não é absoluto, é algo que se constrói e necessita de constante atualização.
Novas experiências
As equipas de fisioterapia e terapia da fala desenvolvem desde há alguns anos programas de reabilitação intensivos, nos quais imperam os conceitos de intensidade, complexidade e relevância para o doente. As sessões conjuntas são uma prática crescente, uma vez que a evidência científica tem vindo apoiar e fundamentar a importância da “dupla tarefa” na reabilitação de indivíduos com DP.
Manter um estilo de vida saudável está associado a um bom nível de conhecimento sobre a própria saúde, se tiver dúvidas ou questões, procure um terapeuta da fala. O papel do terapeuta é mais do que identificar, reabilitar ou compensar défices, o seu papel é também informar.